"Quem Queimou o Coreto do Largo? E Por Quê?

por osa — publicado 31/07/2013 17h04, última modificação 04/01/2018 11h29
Para alguns, foi um protesto de autonomistas. Manoel Coutinho se confessa o incendiário e diz que foi por vandalismo. Nos depoimentos de antigos moradores, resgatamos um pouco da história de um tempo em que no Centro se colhiam castanhas, se quebravam coretos, mas onde também já existiam políticos que prometiam e não cumpriam.

PRIMEIRA HORA – OSASCO, 6 DE ABRIL DE 1991

MEMÓRIA

"Acha-se aberta uma estação no quilômetro 16, denominada Osasco, que tornou-se necessária para desvio de trens. Ass. G. Oetker".

Telegrama emitido pelo superintendente da Sorocabana (hoje Fepasa), em 20 de agosto de 1895, informando a existência da estação construída por Antônio Agu, que originou a cidade de Osasco.

"Vim para Osasco em 1929, porque meu pai (Dante Battiston) foi contratado para fazer os maquinários da Fábrica de Fósforos Granada. Inicialmente moramos no Chalé Brícola, onde meu tio Virgílio, já idoso, dormia no quarto de cima. Naquela época, usavam-se aquelas ceroulas compridas, que eram amarradas nas canelas. Por causa das pulgas, ele acendia a luz, abria a janela e balançava as ceroulas ao vento. Quem passava por ali e via aquilo, pensava que era assombração. Por isso, o 'castelo' ficou com fama de mal-assombrado".

De Ulysses Battiston, sobre as "assombrações" do Chalé Brícola, onde hoje se encontra instalado o Museu Municipal Dimitri Sensaud de Lavaud.

"Manoel Rodrigues era o dono de todo o atual bairro do Rochdale, que naquela época era rodeado pelo rio Tietê e se chamava Ilha de São João. Lá ele plantou milhares de pés de castanha de Portugal, que se parecia com um ouriço do mar. Lembro-me que a garotada da época (eu inclusive) trabalhava abrindo os espinhosos ouriços, sem machucar as castanhas, recebendo duzentos réis por cada litro recolhido (aproximadamente cinco quilos). Trabalhávamos o suficiente para arrecadar os quatrocentos réis cobrados pelo ingresso no Cine Osasco, para onde íamos orgulhosos assistir às matinês com o nosso ídolo, o Tom Mix".

De Manoel Fiorita, sobre como conseguia dinheiro para poder ver seu herói nas telas do Cine Osasco, na década de 30.

Este é o coreto do Largo de Osasco, incendiado em 1937

Este é o coreto do Largo de
Osasco, incendiado em 1937

"João Collino, meu avô, veio para Osasco junto com Antônio Agu. Ele era marceneiro e foi quem construiu a primeira balsa para a travessia do rio Tietê. Era ele quem ia a pé para São Paulo para registrar as crianças que nasciam. As vezes, ele não conseguia 'lembrar do nome que os puis haviam dado às crianças e as registrava assim mesmo. Mais tarde, a pessoa ia descobrir que era chamado por um nome mas, na verdade, era "registrado com outro".

De Nice Collino Odália, sobre a maneira com que seu avô, dono do Cine Osasco, prestava serviços à comunidade, nos primórdios da cidade.

"O Largo de Osasco era de terra e o pessoal da Prefeitura de São Paulo chegou para calçá-lo com paralelepípedos. Uma noite, por volta das dez horas, quando eu estava fechando meu bar (que ficava na esquina da rua Antônio Agu com a João Batista), uma turma tramava a derrubada do coreto, que só serviu de cocheira pura as cabras e abrigo para os bêbados. Como o pessoal da prefeitura guardava as ferramentas no meu bar, peguei picaretas e em quinze minutos pusemos o coreto abaixo. Depois fui até a única bomba de gasolina que existia em Osasco, peguei uns dez litros do combustível e toquei fogo nos restos do coreto. O delegado Agripino "Pisca-Pisca" chegou e levou todo mundo preso. Como eu tinha que fechar meu estabelecimento comercial, ele concordou que eu me apresentasse no outro dia, na delegacia que ficava numa travessa da rua da Consolação, em São Paulo. E claro que eu não fui. No final acabei respondendo processo pelo episódio. Algumas pessoas quiseram dar uma conotação política ao caso, mas o que fizemos foi por pura farra mesmo".

De Manoel Coutinho, sobre o famoso episódio da queima do coreto, em julho de 1937.

Manoel Coutinho, depois partidário  do "não" se confessa o incendiário e diz que foi por brincadeira

Manoel Coutinho, depois partidário
 do "não" se confessa o incendiário
e diz que foi por brincadeira

"Havia a esperança de que os problemas de falta de rede de esgoto e água encanada fossem resolvidos, pois obtivemos essa promessa do prefeito nas vésperas das eleições. Hoje, o assunto está esquecido".

Declaração de Reinaldo de Oliveira, feita ao jornal A HORA, em agosto de 1984, sobre as promessas feitas em palanque – e não cumpridas -, mostrando-nos que esse não é um fenômeno recente na política brasileira.

"O Sr. Campeão, partidário do ‘não’, tinha um boi que andava a cidade toda sem ser molestado. A noite, atraíamos o bovino para nosso quintal, pintávamos com cal um enorme ‘sim’ em seu corpo negro. Depois o soltávamos e ele andava pela cidade fazendo propaganda. Quando seu dono descobria xingava: 'Quem fez isso? Eu mato, eu esfolo'. E lavava o animal. Passando uns dias, repetíamos a dose. Aquele boi nunca levou tanto banho como naquela época".

Nota: Esses depoimentos foram pinçados dos livros Raízes do movimento operário em Osasco, de Helena Pignatari Werner; Histórias pitorescas, da Secretaria de Cultura; e de entrevistas concedidas à reportagem de PRIMEIRA HORA, sobre o Centro de Osasco.