Osasco comemora o aniversário de seu fundador

por osa — publicado 25/10/2017 10h22, última modificação 04/01/2018 11h36
Antônio Agu chegou ao Brasil em 1877 e instalou-se na vila que se tornaria a cidade de Osasco

Antônio Agu nasceu em 25 de outubro de 1845, às nove 9 horas, em Osasco, Itália. Filho primogênito dos lavradores Antônio Giuseppe de Pietro Agu e Domênica Vianco. Batizado por seu tio Dom Michele Vianco, recebeu o nome de Antônio Giuseppe Agu.

Não deve ter tido uma infância ou adolescência difícil, pois a crise econômica italiana principiou quando por ocasião do casamento de Antônio Agu com Teresa Maria Benvenutta Chiaretta, isto é, em 1870.

Dessa união, nasceu a menina Primitiva Domênica Michela Agu, em 22 de julho de 1872. Conforme informações contidas no histórico da Cúria Metropolitana da Cidade de Osasco, na Itália, foi nesse mesmo ano que Antônio Agu migrou para o Brasil.

Muitas foram as razões que trouxeram os italianos para as Américas. A Itália se unificou em 1870, e foi resultante desse processo político social as causas para migrar. “O confisco de propriedades por falta de pagamento de impostos, esgotamento da terra, relações pessoais entre trabalhadores e proprietários, crise agrícola, desflorestamento, política comercial, proteção a navegação e crise de disponibilidade alimentícia”.

O Brasil dessa mesma época tinha outras crises: falta de braços para substituir o trabalho escravo que, após o término do tráfego negreiro e a guerra do Paraguai, tornaram-se escassos, e falta de mão-de-obra qualificada para trabalhar na indústria nascente.

As fronteiras do café se alargavam para o oeste paulista e os braços para tocar as plantações minguavam. Assim, a saída mais viável era a substituição do braço escravo pelo assalariado.

Antônio Agu veio para o Brasil no mesmo ano do nascimento de sua filha, e começou a trabalhar na construção da Estrada de Ferro na cidade de São João do Capivari, interior de São Paulo. Foi um dos muitos que prosperaram graças às suas terras roxas.

Assim, a troca de seu meio de produção não o tornou totalmente industrial, mas ajudou o município a prosperar e seguir a evolução dos tempos.

“Neste ano de 1881, a lavoura de café em São João do Capivari está começando, e para proteger esta lavoura das possíveis geadas os terrenos baixos não são cultivados, ali são deixados revestidos de mato virgem abundante e com árvores de preciosa madeira. O único rio que atravessa o município é o Capivari. Os demais riachos e ribeirões servem para irrigar a lavoura. A maior parte da terra roxa ainda deixa espaço para que as terras menos nobres, como as que se extrai argila, os barreiros, o calcário e a brita coabitem em seu espaço...”

Com tanta riqueza, o povoado não tardou em virar freguesia, e desta a condição de cidade foram apenas 44 anos de trabalho. Ou seja, Capivari tornou-se cidade em 22 de abril de 1864.

Ainda em relação a esse progresso, é preciso somar a chegada da estrada de ferro, em 21 de outubro de 1875, e o engenho central, que começou a ser construído em 1881.

Como se pode observar, esta cidade carecia de mão-de-obra especializada e não podia parar seus largos passos em direção ao novo século só pela falta de escravos. Além disso, escravos trabalhavam bem na lavoura, mas não eram hábeis no uso da máquina a vapor para o beneficiamento de grãos de café, algodão, milho e arroz. Também não tinham prática em usar máquina para formatar telhas e tijolos nas olarias. A tecnologia estava ao alcance de qualquer agricultor e, caso quisesse veículos, máquinas e instrumentos para a sua lavoura, era só pedir ao mecânico Henrique de Araújo que ele fabricava em sua ferraria - muito bem montada no centro de São João do Capivari. Eram todos esses avisos de novos tempos, de desenvolvimento, que nem ao menos a cidade de São Paulo tinha, e Antônio Agu residindo nesta cidade do século XX.

A narrativa serve para explicar, documentalmente, que o progresso que Antônio Agu daria às suas terras, no km 16 da Sorocabana em São Paulo, nada tem a ver com Osasco, Itália. Mas sim, com São João de Capivari, onde viveu os seus primeiros 14 anos no Brasil.

A Itália que Antônio Agu deixou para trás não prometia nada a seus filhos e também não tinha nada a oferecer para o futuro próximo.

Em relação ao dinheiro para comprar a olaria de João Pinto Ferreira e depois o sítio, também são provenientes da construção do Engenho Central de Capivari.

Antônio Agu já tinha uma propriedade na cidade de São João de Capivari, quando resolveu se estabelecer em São Paulo.

Esta resolução pode ter sido tomada por muitas razões. Mas, entre elas, certamente está o ideal de realizar o sonho de construir um bairro.

São Paulo começava sua metamorfose de cidade para a megalópole que hoje conhecemos. Muito provavelmente, Antônio Agu, que em 1887 tinha 42 anos, já havia aprendido, economizado e amadurecido seus ideais. Era tempo de novos rumos, de novas buscas. E ele não foi o único nem o primeiro dos italianos que se mudou para a cidade de São Paulo, onde a população italiana passou, entre 1872 e 1886, de 8% para 25% do total de habitantes.

São Paulo deixava de ser apenas o pólo político da província para se tornar também uma cidade desenvolvida, economicamente vibrante, dinâmica e impaciente.

Os braços italianos invadiam os meios de produção. Pequenos comerciantes, artesões, operários, têxteis, engraxates, vendedores ambulantes e oleiros. A cidade já tinha fábricas de tecidos, calçados, gêneros alimentícios e olarias. O panorama urbano era rápido e vertiginosamente mudado. Faltava moradia para a população que, em 1886, era de 8.269 pessoas, e em 1890, passou para 13.337 só no distrito da Consolação.

Os apelos de mudanças não eram poucos, e maiores eram os atrativos para sair de São João do Capivari e vir para São Paulo.

No km 16 da Ferrovia Sorocabana, o desenvolvimento das olarias também caminhava em ritmo de São Paulo. Já existiam as olarias de Delfino Cerqueira, João Pinto Ferreira e João Brito (Olaria São João). Até a de José Manuel Rodrigues estava instalada no ano de 1887.

É interessante observar o comentário de Alice Canabrava em seus estudos sobre as chácaras paulistanas: “(...) encontra-se também a atividade agrícola ligada a uma produção industrial baseada no solo, a fabricação de telhas e tijolos. Nessas chácaras, a olaria encontra-se associada ao pomar de árvores frutíferas em geral, e até há videira, para a fabricação de vinho (...)”. E a propriedade comprada por Antônio Agu tinha exatamente o perfil de chácara paulistana definida por Alice Canabrava. A raridade está no fato de o sítio "Ilha de São João" ter sido a primeira propriedade da região do km 16 vendida a um italiano. Aliás, por um bom tempo, até 1902, este foi o único sítio que passou de mãos brasileiras para de estrangeiros.

                                                                                                         (Mara Danusa)