A Emancipação Segundo o Dr. Reynaldo de Oliveira

por osa — publicado 07/08/2013 14h10, última modificação 04/01/2018 11h30
Não satisfazia à gente osasquense a condição de satélite da grande constelação do planalto de Piratininga.

 

Para a Vila Osasco cabia apenas a obrigação de dar a sua parte na receita da prefeitura de São Paulo, mas não recebia benefícios e melhoramentos. Osasco era eternamente esquecida pelo poder municipal. Por muitos e muitos anos o subdistrito deu muito sem nada receber, nem ao menos visitas dos prefeitos.

Mas o "Eu guio, não sou guiado”, tradução do "No Ducor Duco" escrito no brasão de São Paulo, despertou na gente operária de Osasco a necessária coragem de empreender a luta pela sua vida própria. Pela sua auto-determinação, pela sua emancipação político-administrativa e econômica, dando rumo próprio ao seu futuro, com sua prórpia gente a frente dos seus destinos.

Foi a elevação de Barueri a condição de município que fez brotar nos osasquenses a esperança da emancipação. O patrono da iniciativa na Assembléia Legislativa do Estado foi o deputado Gilberto Chaves.

Em 13 de dezembro de 1957 a Sociedade Amigos de Osasco dava o memorável toque de reunir na Associação Atlética Floresta.

O segundo patrono na Assembléia Legislativa do Estado foi o deputado Anacleto Campanella, já experiente na luta e que levou o município de São Caetano a emancipação.

Foi uma longa jornada de nove anos. Em janeiro de 1962, o povo de Osasco recebeu a estarrecedora notícia da suspensão do pleito na véspera da sua realização. Uma marcha a São Paulo foi organizada, já que, pela primeira vez, o sub-distrito escolheria quem iria dirigir seus destinos. 

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Protesto: Uma bandeira negra
em alto mastro foi hasteada no
Largo da Estação.

A cidade se cobre de luto. Uma bandeira negra em alto mastro foi hasteada no Largo da Estação. O povo saiu às ruas demonstrando o seu desagrado. Homens, mulheres e crianças, se associando na demonstração de dor, usavam luto na lapela ou faixa negra no braço. “A força do direito se ajoelha diante da força do poder político e econômico”, disse o Dr. Reynaldo de Oliveira, referindo-se sobre a vitória jurídica do plebiscito do "Sim".

Osasco torna-se uma praça de guerra, tal foi o número de militares que veio prevenir uma possível reação violenta do povo diante da decepção e frustração do ideal da gente osasquense.

O comércio cerra as portas em sinal de protesto, instalando luto.
No dia seguinte da passeata, foram colocadas urnas para que os eleitores devolvessem os seus títulos eleitorais ao Tribunal Eleitoral, demonstrando desta forma a sua inutilidade. Em um só dia devolveram 4200 títulos, inclusive do pároco de Osasco.

Contam os jornais da época que quando a caravana autonomista acendia a sua tocha no Museu do Ipiranga, um fato curioso se passou. Conseguiu ela fazer o que há 10 anos nenhum temporal, por mais forte que fosse, o fez: apagar a chama votiva na pira do altar da pátria, no Museu do Ipiranga. Solenemente, a 1h da madrugada do dia 13 de janeiro, o fogo simbólico da liberdade foi transferido para Osasco, que só foi extinto pelo prefeito eleito no dia da sua posse em 19 de fevereiro de 1962. Nessa oportunidade a bandeira dos autonomistas também foi baixada.

A bandeira tricolor que em cada uma das suas cores encerrava uma fase da luta:

O negro, ao alto, representado os dias de luto do povo demonstrando os dias sombrios vividos pela incerteza, símbolo e estima da dor.

O vermelho, a chama ardente da Pira da Liberdade, trazido do altar da pátria como que para aquecer o ardor da luta.

O Branco, símbolo da paz, da alma e do corpo cansado, mas satisfeito por ter atingido o fim proposto.


Este texto é uma reprodução da primeira matéria sobre a emancipação, publicada no jornal "Municípios em Marcha" de 19 de fevereiro de 1969.