Carlos Lacerda é Cidadão de Osasco

por osa — publicado 07/08/2013 14h10, última modificação 04/01/2018 11h30
Este fato aconteceu em maio de 1964. Naquele dia Lacerda veio a Osasco acompanhado de Roberto Abreu Sodré, presidente do Diretório Regional da UDN em São Paulo.

Por Mara Danusa

Na Vl Yara já foi recebido por populares que o aplaudiram demoradamente e por uma comissão de vereadores constituída por João Emilio Bornacina (PSP), presidente da câmara; sargento Clovis Carrillo de Freitas (PSP), primeiro secretário; Alfredo Thomas (PR); Benedito Ventura Mitão (PTN); Osler Almeida Barros (PSP); José Ghizzi (PSD), e o sr Memória de Oliveira, líder da UDN local e do movimento lacerdista.

Formado o cortejo de automóveis, o governador Lacerda percorreu parte da estrada São Paulo-Itú, atual av: dos Autonomistas, observando as faixas, cartazes e os postes que o saudavam como "novo cidadão de Osasco".

Na prefeitura foi recebido pelo então prefeito Hirant Sanazar e espôsa, o governador percorreu a seguir as dependências do moderno prédio da Prefeitura, sob aplausos de numerosos servidores.

A banda da Juventude Cívica de Osasco, JUCO, executou vários números antes que p chefe do executivo Municipal saudasse o governador em um palanque armado ao lado do então prédio da PMO.

O prefeito Hirant Sanazar iniciou sua oração dirigindo-se ao "presumível futuro presidente da República" para afirmar que era justo orgulho que Osasco, um município que entrava em seu terceiro ano de vida, contava agora entre os seus 150 mil habitantes com o líder da democracia do Brasil.

O governador do Rio de Janeiro agradeceu e fez um rápido discurso no qual expôs aos operários as táticas dos adversários que desejam impedir que ele se dirija aos trabalhadores a fim de que não seja ouvida a verdade, nem denunciadas as ações de agitadores, e de perturbadores da vida nacional.

As origens da fundação de Osasco por um imigrante italiano, o seu crescimento, a sua pujança industrial, a sua emancipação do município da Capital foram citadas pelo governador antes de fazer uma afirmação de maior gravidade. Esta referia-se ao fato de que democratas lutavam agora para encontrar a paz e a tranqüilidade a fim de evitar que proximamente irmãos se lancem contra irmãos numa luta que ninguém deseja.

Carlos Lacerda na Câmara Municipal

O novo cidadão de Osasco chegou a câmara municipal às 19hs para que se iniciasse a sessão solene, gravada em "vídeo tape" por emissoras de televisão da Capital, para a entrega do título de "Cidade de Osasco" ao governador Carlos Lacerda.

Presentes a cerimônia o deputado federal Ferraz Egreja, da UDN, deputados estaduais, o prefeito, o vice-prefeito, vereadores da situação e da oposição local, assim como centenas de operários, o presidente Emilio Bornacina abriu a sessão e o primeiro secretário, sargento Clovis Carrillo de Freitas, leu dizeres do título. E seguida, foi entregue o pergaminho ao governador, saudando-o em nome da Edilidade. O sr Alfredo Thomaz, sindicalista e autor da propositura que concedeu o título ao sr. Carlos Lacerda.

O orador pronunciou palavras de elogio à administração do governador Lacerda, fez violentos ataques aos comunistas e concluiu afirmando: "Osasco está com Lacerda para o que der e vier. Prova disso, continuou o vereador anfitrião, é que a sua presença na cidade conseguiu o milagre de unir situação e oposição dentro da agitada situação da política local. E continuou: Nós queremos paz, tranqüilidade para o trabalho, mas se necessário for morreremos como, homens na defesa da democracia brasileira", foram as últimas palavras do vereador Alfredo Thomaz naquela solenidade.

Lacerda em visita a Brown Boveri

Após percorrer as principais ruas de Osasco, o governador Lacerda e as numerosas autoridades que o acompanhavam visitaram fabricas do município. Na Brown Boveri, grande indústria de materiais elétricos o governador percorreu as suas linhas de produção e em um dos pavilhões, de uma escada que dava acesso a uma grande máquina dirigiu-se a 1.300 operários.

Lacerda lembrou inicialmente a capacidade de trabalho do operariado brasileiro e se referiu às máquinas que aqueles trabalhadores estavam forjando para entregar ao estado da Guanabara, peças que ram essenciais ao abastecimento de água, no valor total de um bilhão de cruzeiros. A seguir, disse que tomara conhecimento de um boletim lançado em Osasco contra a sua presença com os mesmo dizeres dos que são lançados em toda parte onde ele chega. "Até parece que o redator é o mesmo", comenta Lacerda. E continuou, ocorre, entretanto, que apesar de tentar incompatibiliza-lo com a massa, os adversários estavam perdendo terreno, pois não podem desmentir nem deturpar a obra que hoje se realiza no Estado da Guanabara, Estado que fora declarado ingovernável pelos seus próprios inimigos.

Mas adiante no discurso Lacerda pediu aos trabalhadores que formassem a sua opinião própria sobre os problemas nacionais sem ouvir quer os adversários ou mesmo os seus amigos mais exaltados. Nesse sentido, passou a discorrer sobre o câncer da Previdência Social, que não dá sequer o troco às empresas e aos trabalhadores das vultosas importâncias que recebe para não tratar de ninguém e sim para se endinheirar e empregar dinheiros e políticos. A seguir, preconizou o sindicalismo livre, com eleições diretas nos locais de trabalho, única forma de acabar com os "pelegos" e aproveitadores do Fundo Sindical, formado pelo abominável imposto sindical. Os "pelegos" e os comunistas foram duramente atacados pelo orador, que apontou a escravidão dos povos que caíram sob domínio soviético. Citando nomes, apontou aqueles que empregam parentes, que viajam e que levam uma vida invejável em nome da "classe operária". Falando das reformas Lacerda disse que as únicas reformas de que o Brasil precisa consiste em aumentar a produção e não anarquiza-la, em dar paz e tranqüilidade a seus filhos e não atemoriza-los, em criar escolas, em industrializar a lavoura.

"A liberdade é o único bem sem o qual se perde tudo e até o direito de se dizer que não se tem nada", com esta frase final Lacerda foi ovacionado pelos operários. 

Lacerda visita a Cidade de Deus

Os moradores da Cidade de Deus, núcleo modelo construído pelo Banco Brasileiro de Desconto, Bradesco, para seus funcionários estava engalanada com bandeiras de todos os estados em homenagem ao novo Cidadão de Osasco. O governador Carlos Lacerda ao chegar, hasteou a bandeira nacional sob os acordes do hino nacional, enquanto um funcionário também hastava a bandeira paulista. Em palanque armado no centro recreativo, depois das palavras de saudação do prefeito Hirant Sanazar, do superintendente do banco, sr Amador Aguiar, e do representante dos funcionários, Francisco Sanches, e do vereador Alfredo Thomaz, o governador fez seu terceiro discurso do dia. Neste discurso suas palavras foram em direção a busca da compreensão e fraternidade entre os homens, humanização do capital e do trabalho coisas possíveis de serem realizadas e das quais a "Cidade de Deus" era uma amostra palpável. E para concluir disse: "o Brasil não é um país subdesenvolvido é sim uma Nação com desenvolvimento desigual. Que conhece Osasco, e sua pujança industrial, não pode falar em subdesenvolvimento".