Hirant Sanazar (1962/67)

por osa — publicado 31/07/2013 16h33, última modificação 04/01/2018 11h29

Autonomia Virou uma Acirrada Disputa Judicial

Na Cidade Trabalho, a autonomia não podia acontecer de forma tranqüila, sem sobressaltos ou problemas. Assim, o pleito de 21 de dezembro teve muitos percalços eleitorais. Moradores de outros distritos votaram em

Plebiscito de 1958 - Voto de Hirant Sanazar

Plebiscito de 1958:
Voto de Hirant Sanazar.

 Osasco, o que era textualmente proibido por lei: "apenas os eleitores residentes ou domiciliados no distrito há mais de dois anos, inscritos dentro do prazo, poderão votar no plebiscito para a emancipação". No pleito de Osasco, no entanto, votaram moradores do Jaguaré, Morro da Laje, Vila São Francisco, parte da Vila Yara, parte da Vila dos Remédios e Butantan. Além disso, o eleitor inscrito Benedito Soares de Melo, faleceu no dia 9 de dezembro, porém deu seu voto em 21 do mesmo mês. Coisas que só a votação no distrito de Osasco neste dia pode contar. Com tantas irregularidades, mais a influência política do dono do cartório, a votação só poderia ter sofrido entraves judiciais das mais diversas ordens. No jornal Gazeta de setembro de 1959 o então prefeito de São Paulo Adhemar de Barros, amigo de Lacydes Prado, determinou ao departamento jurídico da prefeitura que impetrasse mandado de segurança contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, que marcou as eleições em Osasco, por reconhecer a autonomia da vizinha localidade. A influencia do tabelião Lacydes Prado é claramente detectada quando na mesma matéria o jornal diz que: "relembra-se que, dessa decisão, em princípios de junho último, o chefe do executivo paulistano declarou que não tinha a prefeitura, nenhum interesse especial em opor-se. E disse aos jornalistas que mandava felicitações ao novo município e votos por uma feliz existência". 

Ainda na mesma matéria a disputa política dos donos de São Paulo continua a ser relatada quando: "em 1958, realizou-se o plebiscito em Osasco havia ali 24 mil eleitores, votaram 8 mil e a autonomia foi vencedora, por uma diferença de pouco mais de 1.300 votos. Em setembro de 1959 o prefeito obteve mandado de segurança contra as eleições que já estavam marcadas para o dia 07 de janeiro de 1960. No entanto, o governador Jânio Quadros, ficava em campo contrário ao do prefeito, acirrando a luta entre o Sim e o Não para a emancipação do distrito". Por isso neste período Osasco se transformou num belo campo de batalha política entre os ademaristas e janistas. O mais incrível é que para a primeira eleição do jovem município em setembro de 1959 já estavam registrados 269 candidatos a vereador, 6 a prefeito e 7 a vice-prefeito. Isso que o pleito ainda não havia sido marcado. As elições para a emancipação do distrito foi julgada duas vezes no Supremo Tribunal Federal. Onde fosse julgado teria uma centena de autonomistas pressionando. Entre 1958 e 1962 os autonomistas, com destaque especial para os Sr Fuad Auada e Antônio Menck, brigaram na Justiça pela validade do pleito e nesta fase o então prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros tentou de todas as formas impedir a emancipação. "Vencemos devido à empatia de grande parte dos deputados", registrou alguns anos mais tarde, Dr. Reynaldo de Oliveira, Patriarca da Emancipação.

A Luta Para a Primeira Eleição

1962 - Posse do primeiro prefeito de Osasco, Hirant Sanazar

Posse do primeiro prefeito,
Hirant Sanazar (o mais alto)

Finalmente a primeira eleição para definir o prefeito de Osasco foi marcada para 7 de janeiro de 1962, pelo Tribunal Regional Eleitoral. Um dia antes da votação o prefeito de São Paulo conseguiu um mandado contra a realização das eleições, acolhido pelo Supremo Tribunal Federal. Este fato causou revolta na população, que promoveu uma verdadeira rebelião, quando os osasquenses marcharam para São Paulo para reivindicar o direito de votar. "Jamais esqueceremos esses angustiosos dias em que a população de Osasco, como que abalada por um cataclisma que se abateu sobre a cidade, recebeu a estarrecedora notícia da suspensão do pleito, na véspera de sua realização", narrou Dr. Reynaldo.

Nesta fase houve uma comoção na cidade que se cobriu de luto. Uma bandeira negra foi hasteada no Largo da Estação. Homens, mulheres e crianças, contou Dr Reynaldo, usavam luto na lapela ou faixa preta no braço, tornando-se protagonistas da mais bela página da história de Osasco.

"Osasco se tornou uma praça de guerra tal foi o número de militares que veio prevenir uma possível reação violenta do povo diante da decepção e frustração de um ideal". O comércio cerrou suas portas colocando luto nelas. O ambiente na cidade era tenso. E para complicar espalhou-se, como rastilho de pólvora, a notícia de que a esposa do prefeito Adhemar de Barros estava na casa de uma das chefes do movimento anti-autonomistas. Para lá se dirigiu uma enorme massa popular e ela fugiu pelos fundos da casa. Organizou-se uma marcha para Assembléia Legislativa, casa do prefeito, visitas a jornais, uma centena de veículos, camionetes, peruas, caminhões, etc., com faixas e dizeres alusivos e panos pretos e foram para o Palácio 9 de julho, Assembléia Legislativa. Os osasquenses pararam o vale do Anhangabau, com estridente buzinar e outros carros se juntaram à caravana. 

Na assembléia foram recebidos pelos deputados e de lá para o palácio Bandeirante, em visita ao governador.

Quando os autonomistas se aproximaram do palácio, tiveram sua passagem barrada por um pelotão de choque da força pública com metralhadoras assentadas no meio da rua. Foi permitida a passagem apenas a dois emissários para falarem com o governador. Depois de serem recebidos pelo governador os autonomistas seguiram para residência do prefeito, onde os aguardava a guarda civil que não permitiu a parada dos manifestantes.

A luta pela emancipação de Osasco foi manchete várias vezes nos jornais de todo país e também no Times, de Londres.

Uma outra forma de protesto dos autonomistas foi colocar urnas espalhada pelo centro para que os eleitores devolvessem os seus títulos ao Tribunal Eleitoral demonstrando a inutilidade do documento eleitoral. Em um só dia devolveu-se 4.200 títulos. Outra manifestação foi colocar uma pira ardente que ficou acesa por quase um mês, do Museu do Ipiranga. O fogo simbólico só seria extinto pelo primeiro prefeito, Hirant Sanazar, eleito em 4 fevereiro de 1963.

Hirant Sanazar, venceu as eleições, obtendo 9823, dos 23283 votos válidos. Em 7 de fevereiro ocorreu sua diplomação, junto com os vereadores eleitos, e no dia 19 de fevereiro, tomou posse como primeiro prefeito de Osasco, iniciando uma nova etapa da história política da cidade que conquistava a sua lutada autonomia política e administrativa.